quinta-feira, 13 de junho de 2013

Fofocas da adolescência

Depois de passar uma tarde conversando com as senhoras católicas que todo(santo) dia batem ponto na Igreja dos Capuchinhos, na rua Haddock Lobo 266, perto de onde Tim Maia e sua turma se reuniam, foi possível descobrir algumas fofocas sobre o jovem Sebastião Rodrigues Maia.

Para quem não sabe, Tim morou durante a infância e adolescência na rua Afonso Pena, zona norte do Rio, no bairro da Tijuca. Ele e seus outros 18 irmãos - naquela época ainda se faziam filhos aos borbotões - moravam na pensão do pai, seu Altivo, e Tim ajudava sua mãe a vender quentinhas, o que motivou os meninos de sua turma a lhe apelidarem de "Tião Marmiteiro".

O apelido, talvez, muitos já conhecessem, mas a grande façanha de Tião, que foi descoberta pelos moradores do bairro, não. Pois as tais senhorinhas da igreja me revelaram que desde aqueles tempos em que Tim era apenas o Tião "das marmitas" ele já tinha maus hábitos alimentares, o que não é nada demais, é verdade. Mas a questão é: quais eram esses hábitos?

Bem, hábitos muito estranhos. Tião, não satisfeito com o que comia em casa, abria todas - sim, TODAS - as quentinhas que sua mãe lhe dava para entregar e comia a carne, e sempre só a carne. Então as quentinhas que Tim entregava só tinham arroz e feijão, às vezes macarrão, noutras um pouco de farinha, ao gosto do freguês. Mas carne não.

Claro que ele fazia isso na surdina, escondidinho num canto ou em algum beco pouco movimentado, mas há quem diga que ele comia no meio da rua mesmo, a olhos vistos, uma coxa de frango atrás da outra. Até que um dia ele foi pego. Disse que não fazia sempre, só quando estava com fome. Fato é que depois de descobrirem essa malandragem muitas coisas passaram a fazer sentido para aqueles que tinham suas quentinhas entregues por Tim. A causa da falta de carne estava explicada. E sua mãe, dona Maria Imaculada, não deixou barato.




Verdade ou não, é uma história engraçada e que se encaixa perfeitamente na personalidade e na vida de Tim Maia. Outra, que provavelmente não é difícil de prever, era a que Tim enrolava todo mundo. Enrolava sempre. E muito. Por qualquer motivo que fosse. Só por enrolar mesmo. Nem os padres da igreja escapavam. E de uma certa forma eram enrolados por Tim também.

É que sabendo que os vinhos da Igreja dos Capuchinos usados pelos padres eram de boa qualidade, Tim encontrou um motivo para passar um tempo a mais na igreja: fazer amizade com os padres. Não era uma amizade gratuita, lógico. Depois de conseguir boa comida - a carne das quentinhas - Tião tinha que conseguir boa bebida, e por que não o vinho da igreja?

Com esse raciocínio Tim se esforçava para agradar os padres, fazê-los seus amigos. Bons amigos, daqueles que dividem uma garrafa de vinho reserva especial. E óbvio, com essa regalia, ele tinha que manter e alimentar as amizades sacerdotais, afinal não é toda hora que um garoto pobre pode se dar ao luxo de se embebedar com um bom vinho.

Ao que parece Tim Maia já era uma figura excêntrica desde sua adolescência, não precisava de muito esforço para vislumbrar que aquele garoto com hábitos pouco convencionais se transformaria em uma personalidade tão polêmica. O que ninguém imaginava é que um dia o Tião "das marmitas" se tornaria um dos grandes nomes da música nacional, reconhecido internacionalmente, responsável por introduzir o soul na música brasileira e influenciar toda uma geração de músicos.

E o mais impressionante é que ele foi só um dos quatro nomes que saíram daquela turma do Bar do Divino. Jorge Ben, Roberto Carlos e Erasmo Carlos eram alguns dos meninos que o apelidaram de Tião Marmiteiro. As senhorinhas daquela época jamais imaginariam."Haddock Lobo, esquina com Matoso. Foi lá que toda confusão começou." Amém.




Post por Patricia Trajano
Ilustração de Fábio Bof (bio)

Sem comentários:

Enviar um comentário