terça-feira, 9 de abril de 2013

Tim Maia Racional - Parte 1


Conhecido por sua personalidade forte e, às vezes, até grosseira, Tim Maia se rendeu aos ensinamentos de uma seita misteriosa, que mudou temporariamente o seu comportamento e a sua forma de enxergar o mundo. 
O que essa seita tinha de tão especial e esclarecedor? Foi o que alguns alunos da nossa equipe se perguntaram.
Descubra nesta série de matérias algumas respostas a respeito dessa fase da vida do nosso Síndico!

Larissa Acosta



Tim Maia Racional 

A década de 70 foi um período místico na música brasileira. Foi nessa época que Jorge Ben lançou "A Tábua de Esmeralda" e "África Brasil", álbuns que falavam de alquimia e outros mistérios medievais. Entretanto, os mais polêmicos lançamentos dessa fase esotérica da MPB, foram os discos "Racional Volume 1" e "Volume 2", gravados por Tim Maia.

Em julho de 1974 Tim estava em fase de  produção de seu novo disco. As músicas estavam praticamente prontas, faltando apenas as letras. Um belo dia, durante uma visita a Tibério Gaspar, Tim pegou emprestado do amigo o livro "Universo em Desencanto" de Manoel Jacintho Coelho, também fundador de uma crença chamada de Cultura Racional.

A partir daí, Tim quis saber mais detalhes sobre o que acabara de ler. Dias depois, queria dividir com as pessoas,  o que tinha aprendido com o livro cuja base filosófica era: “Nós somos originários de um planeta distante e perfeito e estamos na Terra exilados. Aqui, nós vivemos na animalidade, sujos e magnetizados, sofrendo nesse vale de lágrimas. A única salvação é a imunização racional, que se conquista lendo o livro e seguindo seus ensinamentos. Só assim podemos nos purificar e ser resgatados pelos discos voadores de volta a nosso planeta de origem: o Racional Superior.”

Pouco tempo depois, Tibério levou Tim à Baixada Fluminense para conhecer o mestre Manoel Jacintho Coelho sumo sacerdote do Racional Superior, que psicografava os livros e comandava os rituais de leitura, doutrina e purificação.

Tim ficou alguns dias isolado, em processo de conversão à “seita”, participando por exemplo, de rituais de leituras do livro em coro, vestido completamente de branco.

Quando voltou, reuniu sua banda e foi pra São Paulo para fazer o show de abertura do Teatro Bandeirantes.

Antes da última música do show, Tim Maia agradeceu a todos e disse, que estava lendo um livro muito importante e gostaria de recomendá-lo a todos, e em seguida, finalizou com os versos:

 “Uh, uh, uh, que beleza
Que beleza é sentir
A natureza…”

Deste momento em diante, Tim tornou-se um novo homem. Mudou o visual, raspando o bigode e cortando o cabelo e passou a vestir-se apenas de branco. Abdicou também de seus prazeres preferidos: drogas, bebidas e sexo por segundo ele, se tratarem de “coisa do demônio” e adotou uma dieta rigorosa que não incluía carne vermelha.


Tim Maia na fase esotérica
Tim Maia na fase esotérica


Como conseqüência destas mudanças radicais, não apenas perdeu peso  como também sua voz estava melhor do que nunca. Após melhorar a letra de “Que Beleza”, Tim levou a fita para seu mestre,  Manoel Jacintho.

Enxergando a grande visibilidade que a canção traria para a Cultura Racional,  Manoel o incentivou a mudar todas as letras do disco. Nascia ali o disco renegado de Tim Maia, o “Tim Maia Racional”.
Mas havia um problema: a gravadora de Tim (RCA) não queria lançar o disco, pois além de estarem vivendo numa época de repressão cultural e política, não estavam dispostos correr o risco de ver o disco censurado, causando um prejuízo incalculável.

Nascia assim a Seroma Discos, fundada pelo próprio Tim e batizada com seu nome (Sebastião Rodrigues Maia).

No entanto, os músicos sofriam com a conversão e fanatismo de Tim, já que não partilhavam do mesmo entusiasmo. Além de lerem livros chatos, também tinham que seguir as regras impostas por Tim, como por exemplo: vestir apenas roupas brancas, não beber, fumar e/ou fazer sexo a não ser com o propósito de procriação.

Os tempos de Tim Maia Racional resultaram em pouquíssimas apresentações e cachês reduzidos. A banda praticamente só tocava para os participantes da crença, que eram também basicamente quem comprava os discos.

Quando os discos chegaram à imprensa e às rádios, ninguém entendeu nada. “Que Beleza” agradou um pouco, mas o restante das músicas foi sumariamente ignorado. A crítica pegou pesado com o disco e as lojas não queriam ter com nenhuma cópia.

No dia 25 de setembro de 1975, Tim Maia teve uma “desiluminação” e abandonou a seita no seu velho estilo: quebrando tudo.

Depois dessa desilusão, Tim sempre pareceu sentir muita vergonha do período Racional, renegando os dois volumes lançados em 1975. Para ele, aquele era um episódio de sua vida que não deveria nunca mais ser lembrado por ninguém.

Hoje em dia, as letras Racionais soam curiosas e até divertidas, principalmente para quem conhece um pouco sobre a figura excêntrica e impulsiva de Tim Maia.


Post por Luciana Nascimento

1 comentário:

  1. Bom post também. Tô gostando dos posts clippings. mas quero ver posts originais também. E entrevistas.

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