sexta-feira, 5 de abril de 2013

Um síndico imprevisível

(Foto: Revista Brasileiros)

 Em Março de 1998, a música popular brasileira sofria uma grande perda. Em Niterói, Tim Maia havia acabado de falecer devido a uma infecção generalizada. O cantor foi sem dúvida uma das figuras mais importantes para a música e cultura brasileiras. Nascido no Rio de Janeiro, Tim Maia cantou, produziu, empreendeu, foi maestro e multi-instrumentalista, teve seu trabalho definido como mais de 6 tipos de ritmos musicais e influenciou grandes nomes da música brasileira como Marisa Monte, Lulu Santos e Os Paralamas do sucesso. 
Quinze anos depois de sua morte, Tim Maia continua presente na mídia e na cultura brasileira, talvez tanto quanto em vida. Em 2007, O jornalista e produtor musical Nelson Motta lançou uma biografia do cantor que conta a história de sua vida acompanhada de perto por ele, que foi amigo pessoal de Tim Maia por mais de vinte anos. A obra ganhou prêmios e ficou um bom tempo em primeiro lugar na lista de biografias mais vendidas do Brasil.

Em 2009, Nelson Motta juntou-se a João Fonseca para criar “Vale Tudo”, peça musical baseada no livro previamente escrito por Nelson. Sucesso de crítica e público, a peça, ainda em cartaz no Teatro NET, atingiu recordes de bilheteria para o gênero musical no teatro brasileiro.

Não restam dúvidas de que toda essa repercussão atemporal de sua arte tem muito a ver com a genialidade de Tim Maia. Como todo grande gênio e produtor criativo que deixa sua rica marca no mundo, Tim tinha muitas características de personalidade e experiências vividas um tanto “excêntricas”. Esse jeito único casado com a qualidade de sua música, fizeram do nome Tim Maia um alimento do qual não se consegue enjoar para a mídia e o grande público.

Tim deixou um legado de “insanidade” que não veio como consequência da fama apenas, mas que já datava da época quando ainda era moleque e vivia na Rua Afonso Pena, na Tijuca. Na sua adolescência, Tim entregava quentinhas provenientes da pensão de seu pai, Altivo Maia, no bairro e uma das casas que pediam o serviço com frequência era a de Erasmo Carlos, seu amigo na época e também interessado por um futuro profissional na música. Em certa ocasião, Erasmo reclamou do atraso na entrega das quentinhas e Tim Maia, revoltado, perseguiu o amigo pela rua com um pedaço de ferro nas mãos.

Ainda antes da fama, Tim Maia morou nos Estados Unidos. Lá ele estudou inglês e até trabalhou em lanchonetes para entrar em contato com a música. Foi então que se identificou com a Soul Music e entrou para uma banda chamada “The Ideals”. Entretanto, o cantor não aproveitou seu tempo só de forma cultural. A viagem foi marcada por muita bebida, muitos baseados e cinco prisões que envolviam desacato, bebedeira e até roubo de gasolina em um posto. Na quinta prisão, ele se envolveu em uma briga com outro penitenciário que acabou tendo sua orelha “devorada” por Tim Maia. Transferido para outra prisão, ele conheceu pelo rádio a música do então jovem de 12 anos, Stevie Wonder, enquanto tremia de medo pela cadeira elétrica aplicável no estado da Flórida. Quando o carcereiro chamou por “Maia” e o levou ao juiz, Tim foi deportado de volta para o Brasil, onde começaria sua carreira com o álbum “A onda é o Boogaloo”, que finalmente traria o soul para o movimento da jovem guarda. Seu grande sucesso poderia estar apenas começando, mas as loucuras de Tim já eram bem antigas e continuaram o acompanhando pelo resto de sua carreira, fazendo que o público o amasse por seu jeito tão excêntrico e polêmico.


Referências:
· Folha Dirigida – Livraria da Folha : Crítica da Biografia- - Vale Tudo, por Nelson Motta
· Revista QUEM, Matéria “As 7 Loucuras de Tim Maia”
· Vale Tudo. Motta, Nelson (2007, Objetiva)


Post por Rafael Lundgren

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